Odair tira lições do passado para criar “armadilha” para o rival e ganhar a Taça Rio nos pênaltis. Eficaz, esquema defensivo se torna uma opção contra outras equipes com grande poder de fogo

Marcação baixa, compactação e muita intensidade. O que o River Plate fez com êxito boa parte da decisão da Copa Libertadores do ano passado – perdendo a decisão de Lima nos minutos finais -, o Fluminenseconseguiu na final da Taça Rio: frear o Flamengo. O time argentino também saiu na frente do placar, mas sofreu a virada no fim, enquanto o tricolor tomou o empate e segurou o 1 a 1 (veja os lances no vídeo acima) até os pênaltis, onde foi campeão.

Guardadas as devidas proporções, o River foi o adversário que mais incomodou o Flamengo na América do Sul e, apesar da derrota, mostrou uma forma de conter um poder de fogo tão grande como é o do rival. Foi o que Odair Hellmann também tentou sem sucesso pelo Inter, nos duelos com o Rubro-Negro pelas quartas de final da Libertadores do ano passado. No Maracanã, chegou a segurar um 0 a 0 até os 29 minutos do segundo tempo, quando sofreu o primeiro gol. Em seguida, aos 33, o segundo, também marcado por Bruno Henrique.

Mas o técnico tirou os seus aprendizados e conseguiu criar uma estratégia eficaz, que inclusive vira uma alternativa quando enfrentar outras equipes com grande poder de fogo no Campeonato Brasileiro ou na sequência da temporada. Para isso, o time teve que mudar sua característica. Se no início de ano jogava com a bola e fazia muitos gols, na nova estratégia a posse é dada para o adversário, e todos os jogadores de linha voltam para dobrar a marcação.

A tática começou a ser montada antes. Saímos da quarta-feira e voltamos para domingo: semifinal da Taça Rio, Fluminense x Botafogo no Estádio Nilton Santos. Odair escalou três volantes em um time que não fez gols e se classificou graças à melhor campanha de seu grupo após o empate por 0 a 0. Mas ali o técnico já testava a consistência da formação para um desafio maior que estava por vir.

Dodi, Hudson e Yago povoaram o meio de campo para não dar espaços a Everton Ribeiro e Arrascaeta, além do suporte à primeira linha dos zagueiros. Nino só perdeu um duelo com Bruno Henrique o jogo inteiro. Nenê, na função de ponta e com fôlego de garoto, dava pique até a linha de fundo defensiva na reta final do jogo. E Marcos Paulo e Evanilson jogavam atrás do meio de campo e tentavam sair em velocidade quando o time recuperava a bola.

Taticamente “quase” perfeito

A tentativa era acelerar o contra-ataque. Quando não fosse possível, bolas longas nas costas da primeira linha da defesa rubro-negra. Odair considerou um jogo taticamente perfeito, não foi para tanto, mas esteve próximo. No primeiro tempo, o Fluminense só falhou uma vez, quando permitiu que Léo Pereira subisse sozinho na área em um escanteio. Arrascaeta também teve uma chance de fora da área, mas em lance fortuito após uma bola cortada por Nino rebater em Hudson.

Mas… Se para um time em condições normais de temperatura e pressão já é difícil manter uma intensidade assim os 90 minutos, imagina para quem vem de 100 dias de paralisação e pouco tempo de treino na retomada do futebol? A parte física começou a pesar no decorrer no segundo tempo, principalmente após os 20. Nino já não teve perna para acompanhar Pedro no gol de empate, e o Flamengo criou chances claras para virar o jogo, não fossem pelos milagres de Muriel e Hudson.

Uma estratégia assim é arriscada do ponto de vista físico, uma vez que vários jogadores podem cansar na reta final, e não dá para trocar todo mundo. Falando em substituições, em tempos de pandemia do novo coronavírus, Odair fez apenas quatro das cinco alterações que tinha direito. Morreu com uma na mão no jogo podendo colocar, por exemplo, Wellington Silva para tentar ser uma válvula de escape na pressão do Flamengo.

A última metade do segundo tempo foi mais no coração do que na tática, e o Fluminense se segurou do jeito que deu para levar para os pênaltis. Não, não é o futebol mais bonito de ser visto pelos torcedores, mas é o mais eficiente para enfrentar um adversário como o atual time do Flamengo.

Há perna para repetir intensidade?

É um resultado que não só dá, como enche o grupo de moral diante do amplo favoritismo do Flamengo no jogo. Ainda restam duas partidas com o rival para decidir o título carioca. Com três jogos em oito dias e pouco tempo de recuperação, vai ser um desafio para os comandados de Odair repetirem a mesma intensidade física que a estratégia pede nas duas decisões.

Cansado, mas confiante, os jogadores do Fluminense se reapresentam na tarde desta quinta-feira para mais um treino fechado no CT Carlos Castilho. A equipe volta a campo contra o Flamengo já no domingo, às 16h (de Brasília) no Maracanã, pelo primeiro jogo da final, e decide o título na próxima quarta-feira, às 21h30, no mesmo estádio. Não há vantagem de resultados iguais na decisão.

Fonte: globoesporte.globo.com

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