Quando a bola rolar para Flamengo x Nova Iguaçu, pelo Carioca 2021, completará 20 anos sem a região noroeste do Rio na elite do futebol estadual. Estar lá não queria dizer um tormento aos grandes clubes apenas pelas longas distâncias percorridas até chegar a região mais distante do estado. Não era raro os quatro poderosos voltarem para casa derrotados.
Porto Alegre não perdoou nem o Galinho
Depois de subir duas divisões em dois anos, o Porto Alegre deu as caras na Primeira Divisão em 1987. E logo no primeiro ano, venceu o Flamengo, na terceira rodada. “Flamengo de Zico, de Kita, de Sócrates…” como faz questão de lembrar Alexandre Guerreiro, autor de um dos gols da vitória de 2 a 0.
Depois dessa vitória, os finais de semana nunca mais seriam os mesmos em Itaperuna. “Em dia de jogo contra os grandes, o comércio fechava ao meio dia. Era uma festa para a cidade. Vinha gente de toda a região para assistir os jogos”, relembra Cacaio, itaperunense destaque da equipe no fim dos anos 1980 e que hoje é treinador no interior do Pará.
Apoio extra campo
Mas o sucesso do Porto Alegre também se deve a duas pessoas que estavam nos bastidores. Assim como o Bangu, o Porto Alegre também tinha seu bicheiro. Se no clube da zona oeste do Rio, Castor de Andrade era a autoridade, no Itaperuna era Roberto Sued quem ajudava a fechar as contas no fim do mês.
– Era naquele estilo do Castor. Roberto é boa gente. Não deixava faltar nada, mas era muito exigente, diz Cacaio. Visto com repulsa por maior parte dos torcedores do futebol do Rio, o ex-presidente da Ferj, Eduardo Viana, o “Caixa D´Água”, também é lembrado.
– Ele incentivava e ajudava bastante o futebol do norte e noroeste do Rio, afirma Márcio Monzato, organizador da Super Copa Noroeste, tradicional competição amadora da região.
Mais que uma simples mudança de nome
Depois do histórico quinto lugar em 1989, com nova vitória em cima do Flamengo, o Porto Alegre muda de nome e passa se chamar Itaperuna Esporte Clube. Ali era o início do fim. Mas antes da saída de Sued, o ex-Porto Alegre ainda teria seus momentos de brilho. Em 1990, chegou a segunda fase da Série B do Brasileiro e após empatar em todos os critérios de desempate com o Sport, teve que decidir na bolinha a vaga para a terceira fase. E como se fosse no Jogo do Bicho, deu Leão.
O alambrado caiu!
Depois de muita pressão da oposição, Roberto Sued deixou o Itaperuna, que dali em diante, faria campanhas discretas no estadual. Mas ainda havia tempo para mais um momento marcante. E novamente contra o Flamengo, em 1996, quando o alambrado caiu enquanto os dois times empatavam em 1 a 1 (veja como foi). “O estádio tava lotado. O Flamengo tinha Romário. Só lembrança boa”, diz Pacato, goleiro do Itaperuna naquele jogo que acabou anulado. O muro era o prenúncio do desabamento que viria no clube em breve.
O fim
Já mal das pernas, o Itaperuna foi para a fase preliminar do Carioca de 2001, mas não passou de um modesto quinto lugar. A goleada de 6 a 2 sobre o São Cristóvão seria a despedida da elite. No ano seguinte, o clube anunciaria a saída do futebol profissional.
Anos depois voltaria, mas sem empolgar. A última competição profissional foi a Série C de 2019, quando caiu na Fase Preliminar, eliminado por Arturzinho e Paraíba do Sul.
Sem herdeiros
Desde a queda do Itaperuna, o noroeste do estado viveu de poucos brilhos. O Apeeribense, de Aperibé, ficou bem perto do acesso em 2008, mas caiu no Quadrangular Final (Bangu e Tigres acabaram promovidos). Um ano antes, o Floresta ficou em sexto em uma segunda divisão que dava vaga para cinco clubes. Dois pontos separaram o clube de Cambuci do sonho de recolocar o noroeste na elite.
– Hoje é muito mais barato você pegar um clube empresa, aponta Matheus Mandy, jornalista e ex-dirigente do Paduano. Para Márcio Monzato, a falta de incentivos do poder público também é outro fator. “As prefeituras hoje estão quebradas”, lamenta. A questão socioeconômica também entra em campo para marcar um gol contra. “O interior de SP é cheio de indústrias, o Rio não”, aponta Matheus.
Por causa da pandemia, não houve Série C do Carioca em 2020. Segundo o calendário da Ferj, a quinta divisão do futebol do Rio seria no mês de março, mas até agora não há tabela. A princípio, Itaperuna e São José (ambos de Itaperuna) e Paduano, de Santo Antônio de Pádua, seriam os representantes da região, mas nenhum deles parece empolgar. “Hoje o futebol do noroeste caminha para o fim”, sentencia Matheus.
Fonte: Globo Esporte