Tedros Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, disse nesta sexta-feira em uma coletiva de imprensa em Genebra que a pandemia vai terminar “quando o mundo escolher acabar com ela”. “Está em nossas mãos. Temos todos os instrumentos, podemos prevenir, podemos testar e tratar”, disse. Mas ele alertou que, nas últimas semanas, a tendência é alarmante e vai exatamente no sentido contrário.
“Novos casos de contaminação e mortes continuam a subir. Foram 4 milhões de novos casos em uma semana. Nesse ritmo, vamos ultrapassar a marca de 200 milhões de infectados em duas semanas, sendo ainda que sabemos que esse é um número subestimado”, apontou.
As variantes, o maior número de aglomerações e a incapacidade de governos em adotar medidas consistentes estão entre as principais explicações para o salto de casos nos últimos meses. “Os ganhos obtidos ao longo de 2020 e 2021 estão sob ameaça ou sendo perdidos”, disse Tedros.
Parte ainda do problema é a falta de testes em dezenas de países. Nos países em desenvolvimento, por exemplo, a taxa de testes representar apenas 2% das atividades dos países ricos. “O mundo está cego sobre onde a doença está e onde vai”, disse.
De acordo com Tedros, houve um aumento no número de novos casos de contaminação em 80% em um mês. Na África, as mortes aumentaram também em 80% em quatro semanas. “Isso é inaceitável”, disse Bruce Aylward, responsável por vacinas na OMS. “Só iremos reverter esse número se mudarmos de rota sobre quem recebe vacina”, disse.
Sem doses em muitas partes do mundo, a agência também deixou claro que as novas ondas de contaminação estão ligadas à proliferação da variante Delta, 50% mais transmissível. Mas a OMS insiste: ela não será a última.
“O vírus está mais rápido”, disse Mike Ryan, chefe de operações da OMS. “Por isso temos que ser ainda mais eficientes nas medidas que teremos de tomar. Não há uma solução mágica”, indicou.
Para ele, a variante que ganha terreno é um alerta de que o “vírus está se movendo” e que o mundo “precisa agir antes que outros apareçam”.
Meta de vacinação está ameaçada
De fato, a OMS destaca como as falhas na distribuição de vacinas estão impedindo a proteção aos grupos mais vulneráveis em países mais pobres. A entidade tem como meta garantir que, em todos os países, 10% da população esteja vacinada até setembro. Mas o objetivo corre sério risco de não ser atingido.
Hoje, apenas 50% dos países superam essa marca. Apenas 25% deles atingiram 40% da população e só três países chegaram a 70% de cobertura. “Avisamos que corríamos o risco de um fracasso moral”, apontou Tedros.
Segundo ele, se o atual ritmo de distribuição de doses for mantido, 70% dos países africanos não terão 10% de suas populações vacinadas até setembro ou mesmo até o final do ano. Hoje, o continente administra entre 3,5 milhões e 4 milhões de doses por semana. Se a meta quiser ser alcançada, a região terá de vacinar 21 milhões de pessoas por semana.
“Os países estão prontos. Mas as vacinas não chegaram”, lamentou Tedros. Segundo ele, o continente recebeu apenas menos de 2% das vacinas fabricadas até agora.
Aylward aponta que, até agora, o mundo já distribuiu 4 bilhões de doses. Mas, se tivessem sido distribuídas de forma justa, toda a população mais vulnerável de todos os países já estariam protegida.
O que deixa a OMS mais irritada é que “existem doses e existe dinheiro”. O problema, segundo a agência, é a concentração na mão de poucos. Se alguns países começaram a doar doses, a entidade deixa claro que o volume não está “nem perto” do que seria necessário
Uma das preocupações ainda dos dirigentes da OMS é quanto às campanhas que começam a ser pensadas para garantir uma terceira dose de vacinas em alguns países mais avançados. Para Bruce Aywalrd, os imunizantes funcionam e a prioridade, neste momento, deveria ser garantir sua máxima distribuição, e não uma concentração ainda maior.
*Com informações da UOL