A percepção de aumento dos preços no Brasil multiplicou, nos últimos dias, as postagens em redes sociais que comparam valores encontrados em mercados e comércio de rua com preços salgados cobrados em lojas de aeroporto.
Alimentos, conta de luz, gasolina e botijão de gás estão entre os vários itens cujos preços dispararam no Brasil nos últimos meses.
Os dados de inflação do ano até aqui e as projeções para os próximos meses mostram que não é apenas uma sensação pontual dos consumidores: a inflação hoje é persistente e está disseminada. E o Brasil deve ter, neste ano, a maior inflação desde 2015, segundo economistas do mercado financeiro.
A estimativa é que a inflação oficial do país – medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) – termine o ano em 7,11%, segundo os cálculos de analistas do mercado financeiro divulgados pelo Banco Central.
Esse é o dado mais recente do Boletim Focus, publicado nesta segunda-feira (23/8), com levantamento feito com mais de cem instituições financeiras na semana passada.
Nos últimos meses, a estimativa dos analistas só tem crescido: esta é a vigésima semana consecutiva em que a projeção de inflação para 2021 tem alta, segundo o Boletim Focus.
Mais caro para quem?
Apesar de o Brasil passar por uma alta inflacionária generalizada, as famílias mais pobres vêm sofrendo um aumento de preços maior do que as famílias mais ricas.
Em julho – dado mais recente disponível -, a taxa de crescimento dos preços foi maior para a classe de renda muito baixa (1,12%) em relação à observada para o grupo de renda alta (0,88%). Em 12 meses, a taxa foi de 10,05% para as famílias mais pobres e de 7,11% para as mais ricas, segundo o Indicador Ipea de Inflação por Faixa de Renda.
Esse indicador divide as famílias brasileiras em seis faixas de renda e avalia como a inflação afeta, mês a mês, cada um desses grupos. De acordo com a classificação da pesquisa, as famílias de renda muito baixa são as que têm ganho domiciliar menor que R$ 1.650,50. E as famílias classificadas como de renda alta são aquelas cujo ganho domiciliar é superior a R$ 16.509,66.
Para as pessoas com renda mais baixa, pesou mais o aumento de alimentos no domicílio, energia elétrica e do gás de botijão.
No mesmo período, para as famílias de renda alta, pesou mais o reajuste dos combustíveis, das passagens aéreas e dos aparelhos eletroeletrônicos.
Juros
Em agosto, Jair Bolsonaro reconheceu a inflação alta – “número grande” – e disse que o governo estava tomando medidas. Ele citou a independência do Banco Central e o aumento da taxa de juros.
Dias depois, citou a fé como instrumento para superar problemas da economia.
“O povo tem sofrido com isso, tem inflação, tem desemprego, tem dias realmente angustiantes. O que eu posso dizer aos senhores com fé, com vontade, com crença, nós podemos superar esses obstáculos”, disse, em cerimônia na Assembleia de Deus no Pará.
Para tentar levar a inflação para esse intervalo, o Banco Central pode elevar a Selic, taxa básica de juros da economia.
Embora o aumento do juros possa controlar o aumento disseminado de preços na economia, ele também tem potencial de gerar outras consequências.
Entre eles, estão o aumento nos juros praticados pelos bancos, o aumento das despesas com juros da dívida pública e um impacto negativo no consumo da população – o que, por sua vez, afeta o emprego e a renda.
É por isso que a inflação em um cenário de baixo crescimento é ainda mais desafiadora para a autoridade monetária – e, principalmente, para a população.
*Com informações da Uol