A ideia de prosperidade econômica no Brasil está cada vez mais distante da realidade dos cidadãos. Em Campos, a miséria é cada vez mais evidente, presente em cada esquina e em cada rua. Estatisticamente, 28,9% dos campistas – ou seja, pouco mais de uma a cada quatro pessoas – vivem na pobreza ou extrema-pobreza, com uma renda per capita que varia entre R$89,00 e R$178,00.
A visão de pessoas catando comida nas lixeiras é cada vez mais comum, principalmente, em bairros nobres. Sobra para o poder público a tarefa de contabilizar e tentar reduzir a desigualdade social que joga para as margens da sociedade mais de 137 mil campistas. Academia pontua: “incompetência” dos governos.
De acordo com os números do CadÚnico (do governo federal), fornecidos pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Humano e Social, em Campos hoje existem 194.954 pessoas registradas. Destas, 137.067 em situação de extrema pobreza (renda mensal de até R$89,00) e 10.919 em situação de pobreza (com renda entre R$89,00 e R$178,00). Os outros 46.968 registrados são aquelas que possuem a renda per capita maior que R$ 210,01 e se inscrevem no cadastro único por outros motivos, como para acesso ao Benefício de Prestação Continuada e bolsas em universidades privadas. Ou, ainda, pessoas que possuíam rendas inferiores e, agora, aumentaram a renda e não estão mais em condição de extrema pobreza ou pobreza.
Além disso, a Prefeitura diz atuar e registrar essas pessoas no CadÚnico, de forma que elas possam ter acesso aos benefícios federais, como o Bolsa Família, e também aos municipais que estão em fase de preparação: como o Aluguel Social (programa de assistência com 197 beneficiários), e o Cartão Goitacá, que tem previsão para começar em maio e tem o número de beneficiários sendo finalizado conforme o levantamento do público prioritário feito pelos Centro de Referência da Assistência Social (CRAS) e Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS).
Apesar destes programas, muitos ainda se sentem abandonados pelo poder público e só conseguem manter um teto sobre as suas cabeças com a ajuda de doações e sacolões proporcionados por pessoas sensíveis àquela realidade e ações beneficentes de igrejas: esse é o caso das ‘Casinhas da Invasão’, em Donana.
Na tarde de quinta-feira (14), a equipe da Folha da Manhã esteve no local e registrou a realidade de quem vive no fio da navalha entre alimentar os filhos e manter uma casa que não tem água encanada. Esse é o caso de Tainá, de 24 anos. Manicure e mãe de três filhos pequenos, ela conta que não há auxílio público e que, “a ajuda que tem é por conta das igrejas”:
– É impossível viver com o que eu ganho. Fora que a condição de vida aqui faz com que tudo custe algum dinheiro. Não tem água na torneira aqui de casa e temos que encher a caixa d’água, toda semana e gasto R$ 25,00. Aí, eu não consigo nem terminar de colocar o telhado em casa e quando chove forte a água leva tudo que a gente tem. Infelizmente, por aqui, tenho que correr atrás de sacolão e depender de doação para comer, porque não sobra nada para comprar as coisas no supermercado – relata Tainá.
Uma das pessoas que enfrenta as ruas esburacadas para ajudar como pode, com doações arrecadadas na igreja, é Célio Martins, técnico de informática de 47 anos: “Infelizmente a realidade aqui, nessa comunidade em Donana, é essa, são 470 casas abastecidas por uma única bica de água. Aqui é bem pesada a situação dos moradores e não há suporte de governo”.
Qual a solução para esse problema: dialogando com a Academia
É um consenso entre a acadêmicos campistas que soluções para o problema da pobreza, que hoje só cresce, não são fáceis. O problema em si não foi criado de uma hora para a outra e suas raízes estão, nas visões apresentadas, muito profundas.
Para Marilene Parente Gonçalves, assistente social, doutora em Sociologia Política e professora adjunta do departamento de Serviço Social da UFF Campos, “ao longo da última década por um estado continuo não só de crises, mas do desenvolvimento de uma economia que se projeta para a questão financeira de acúmulo de riquezas… estamos produzindo ricos, não uma riqueza que possa ser redistribuída, por assim dizer”.
Para ela, a solução paliativa é a ampliação de investimentos na área de políticas sociais. “O alargamento desses programas sociais contribui para essas pessoas não morrerem de fome”, afirmou a doutora. A visão vai de encontro ao sociólogo José Luis Vianna:
– Os governos tem que ampliar os programas sociais. Programas de taxação de renda, programa de alocação das famílias com aluguel social, transporte 24h nos bairros mais afastados. Essas políticas são essenciais e o orçamento de Campos comporta isso, se for bem gasto – explicou.
Por fim, ele ainda comenta sobre a “incompetência” dos governos Federal e Estadual no controle dessa explosão de desemprego e crise econômica, que já vem desde 2015 com a queda do preço do barril do petróleo e foi agravada pela pandemia e, mais recentemente, pela Guerra da Ucrânia.