Chegou a hora: é o seu dia de ir ao posto tomar a vacina contra a Covid-19, mas você tem dúvidas sobre qual delas é a melhor. Afinal, naquele grupo no celular, as pessoas te disseram para tomar essa, aquela, ou talvez aquela outra. E agora, José?

Não tema. 6 especialistas foram unânimes: você não deve escolher agora qual vacina tomar. Há pouquíssimas exceções a essa regra (pessoas que não podem tomar uma vacina específica por um motivo específico, como um problema de saúde).

Em resumo, é muito melhor tomar qualquer vacina disponível do que ficar vulnerável à Covid-19. E, ao se vacinar, você ajuda a aumentar a cobertura vacinal, que é o mais importante neste momento.

Abaixo, veja 5 razões que mostram por que você não deve escolher vacina:

Por que não devo escolher minha vacina?

  1. É urgente criar imunidade individual contra a Covid
  2. É preciso acelerar e aumentar a cobertura da população
  3. Não há vacinas suficientes para o ‘sommelier’
  4. É prioridade evitar a circulação do vírus e novas variantes
  5. Salvar vidas é também uma responsabilidade coletiva

Além dos cinco pontos acima, no fim da reportagem veja ainda duas perguntas “bônus” sobre viagens e reações após a aplicação do imunizante.

1) É urgente ter imunidade individual contra a Covid

Todas as 3 vacinas aplicadas no Brasil contra a Covid-19 são capazes de proteger de casos graves e de morte pela doença. Isso já foi demonstrado tanto em ensaios clínicos (quando os cientistas medem a eficácia de uma vacina) quanto na “vida real” (quando a efetividade da vacina é constatada).

Sim, é verdade que as vacinas têm eficácias diferentes (em estudos que foram conduzidos de forma distintas e nem sempre são comparáveis). Mas a prioridade, neste momento, não é dar a vacina de maior eficácia a todos ou escolher a própria vacina, defende a epidemiologista Carla Domingues, que coordenou o Programa Nacional de Imunizações (PNI) de 2011 a 2019.

2) Acelerar e aumentar a cobertura vacinal

Os especialistas são unânimes em afirmar que o mais importante agora é acelerar a vacinação, além de aumentar a cobertura vacinal. É necessário vacinar a maior quantidade de pessoas no menor tempo possível.

Quanto mais tempo se leva para atingir uma alta cobertura vacinal, maior é o tempo que as pessoas não vacinadas passam podendo se infectar – aumentando a chance de novos casos e mortes.

Um ponto importante sobre a cobertura vacinal é que as vacinas usadas no Brasil têm, no geral, eficácia menor do que as usadas nos Estados Unidos, por exemplo (que aplica Moderna, Pfizer e Johnson). Isso significa que é preciso vacinar uma maior quantidade de pessoas para frear a transmissão do vírus.

No estudo em Serrana (SP), os cientistas avaliaram que o controle da pandemia foi feito depois que 75% da população recebeu a segunda dose da CoronaVac. Ou seja: para controlar a pandemia é preciso que muitas pessoas se vacinem.

E, se isso não acontecer, é possível que mesmo as vacinas com maior eficácia não sejam capazes de proteger as pessoas de adoecerem, explica a pediatra Isabella Ballalai, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).

3) Não há vacinas suficientes para o ‘sommelier’

Nos restaurantes, sommelier é o especialista na carta de vinhos ou de bebidas. No atual momento, o “sommelier de vacina” virou um termo crítico para representar aqueles que escolhem supostamente o que acham ser o melhor. É importante lembrar que o Brasil não tem doses suficientes de nenhuma vacina para imunizar toda a população. Por isso, infelizmente, nem todos poderão ser imunizados com as vacinas que tiveram maior eficácia nos estudos.

Segundo a última previsão do Ministério da Saúde, atualizada na quarta-feira (16), o Brasil deve dispor ao todo, em junho, de cerca de 38 milhões de doses de vacina (37.948.181), distribuídas da seguinte forma:

  • Oxford/AstraZeneca: cerca de 20 milhões de doses, sendo 18 milhões da Fiocruz e o restante da Covax Facility.
  • CoronaVac: cerca de 5 milhões de doses do Instituto Butantan. Na quarta-feira (16), o Butantan entregou 1 milhão de doses ao Ministério da Saúde.
  • Pfizer: cerca de 12,8 milhões de doses, sendo 12 milhões direto da Pfizer e o restante da Covax Facility.

Além dessas, mais 1,5 milhão de doses da vacina da Johnson – que não estavam previstas no cronograma – chegaram ao Brasil no dia 22, levando o total de junho a cerca de 39,5 milhões de doses.

“A gente já está penando para ter vacina. Nós não temos um monte de vacinas disponíveis diferentes para você escolher”, diz Ballalai.

4) É prioridade evitar a circulação do vírus e de novas variantes

Quanto mais o vírus circula, sendo transmitido de uma pessoa para outra, mais ele faz replicações, e maior é a probabilidade de modificações, ou mutações, no seu material genético. É daí que surgem as novas variantes.

Já há dados que apontam que algumas vacinas não funcionam tão bem contra determinadas variantes – como a da AstraZeneca contra a variante sul-africana (beta/B.1351).

Mas, mesmo nesse caso, a vacina evitou casos graves e mortes, lembra o imunologista Jorge Kalil, pesquisador do Instituto do Coração (Incor) da Universidade de São Paulo (USP).

O cardiologista Marcio Bittencourt, pesquisador do Hospital Universitário da USP, lembra, também, que não sabemos quais são as próximas variantes que vão circular – e como vão agir contra as vacinas de hoje.

Ballalai reforça: é necessário, urgentemente, diminuir o número casos no país.

“Porque senão vai perder essa oportunidade. Vamos criar variantes novas aqui no país: o Brasil é considerado celeiro de variantes. Até a hora em que a gente vai ter uma variante contra a qual a vacina não vai conseguir proteger. Aí, sim, a gente está com um problema sério”, alerta.

É o mesmo caso, por exemplo, da vacina da gripe, compara Bittencourt: todo ano uma nova vacina é feita de acordo com as cepas que os cientistas calculam que vão circular naquele ano. “Se a gente erra a cepa, a vacina fica ruim”, diz o médico.

5) Salvar vidas é também uma responsabilidade coletiva

Ao se vacinar, aumentar a cobertura vacinal e reduzir a circulação do vírus, você protege a si mesmo e às pessoas ao seu redor – incluindo aquelas que ainda não podem se vacinar, seja porque ainda não estão contempladas no plano de vacinação, porque são crianças ou porque têm algum problema de saúde que as impede.

“Quanto mais cedo você [se] vacina, mais cedo protege quem mora, trabalha e convive com você. Quanto mais você espera para [se] vacinar, mais deixa exposto não só você mesmo, como todo mundo que convive com você – quer as outras pessoas estejam vacinadas ou não, porque a vacina é para proteger o todo, não uma pessoa”, explica Marcio Bittencourt, da USP.

Quando a circulação do vírus cai, mais pessoas se vacinam e há menos gente suscetível à doença, cai o número de casos e a probabilidade de que alguém desenvolva um caso grave. Assim, cai o número de pessoas internadas e não há a sobrecarga do sistema de Saúde, que foi vista em praticamente todo o país neste ano. E, claro, milhares de mortes são evitadas.

“Eu me vacino para proteger meu filho, que não vai ter acesso à vacina agora, meu pai, que mesmo vacinado ainda pode adoecer, porque nos idosos a capacidade de produzir anticorpos é menor. Como é que a gente evita a circulação do vírus? É vacinando o maior número de pessoas no menor prazo de tempo. Por isso, não tem sentido estar escolhendo vacina”, reforça Carla Domingues.

‘Se eu tomar a vacina X, poderei viajar?’

Até agora, não há informação de que pessoas imunizadas com a vacina A, B ou C tenham sido impedidas de viajar ou de entrar em algum país.

Há duas semanas, a Espanha reabriu as fronteiras para turistas vacinados com alguma das vacinas aprovadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) ou pela União Europeia. Todas as vacinas usadas no Brasil são aprovadas pela OMS, mas o país ficou de fora da lista por ser de “especial risco epidemiológico”.

“A partir do momento que a Covax vai aprovando as vacinas, muito provavelmente todos os países aceitarão”, opina Ethel Maciel, da Ufes.

‘Mas e os efeitos colaterais?’

Você já deve ter ouvido falar nos casos de trombose após a aplicação da vacina da AstraZeneca. Esse risco, entretanto, é raríssimo – e bem menor do que o de desenvolver um coágulo após a própria Covid, segundo cientistas de Oxford.

Com informações do g1.

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